Na natureza, toda a matéria orgânica presente é aproveitada. Embora não seja muito nutritivo ou de difícil digestão, certas espécies são capazes de se alimentar e aproveitar esses recursos. Esses organismos permitem que os nutrientes que não podem ser digeridos por outras espécies sejam colocados de volta em circulação no ecossistema. Os insetos comedores de madeira são um exemplo claro desse fato.
Nesse sentido, os insetos, uma classe de artrópodes, apresentam uma grande diversidade de espécies e diferentes formas de alimentação. Todos eles têm como característica comum apresentar 3 pares de patas, 2 pares de asas e 2 antenas. Nesta oportunidade, vamos nos concentrar em insetos comedores de madeira.
O que é xilofagia?
O xilofagia é um termo usado em ecologia para descrever os hábitos de um consumidor primário cuja base alimentar é madeira. Em muitas ocasiões, os animais xilófagos têm relações simbióticas com outros microrganismos para poder digerir a madeira, pois possui grandes quantidades de celulose e lignina que dificultam a digestão e o uso.
Os insetos lenhosos são um dos poucos animais que conseguem aproveitar esse material como alimento, por isso desempenham um papel fundamental de decomposição na natureza. Ainda assim, às vezes eles causam problemas para a indústria e infraestruturas humanas.
Por que os insetos comem madeira?
A existência de insetos que comem madeira é possível, segundo estudos, graças a sua microbiota. Nele podemos encontrar protistas, fungos, arquéias e bactérias, embora os três primeiros sejam encontrados principalmente em insetos xilófagos.
Esses microrganismos beneficiam muito seus hospedeiros, regulando a fisiologia e o desenvolvimento dos insetos e protegendo-os de patógenos e substâncias nocivas. Eles são encontrados no trato digestivo do invertebrado e, além disso, permitem que ele obtenha energia de materiais de origem vegetal, como a celulose.
A digestão da madeira envolve a quebra de ligações complexas presentes na celulose e na lignina. Por esse motivo, a grande maioria dos insetos que comem madeira têm mandíbulas especiais que lhes permitem moer os alimentos. Uma vez ingeridos, os microrganismos e fungos da flora intestinal são responsáveis pela quebra dessas ligações complexas, permitindo que os insetos aproveitem seus nutrientes.
Existe um grande número de insetos que comem madeira. Aqui estão alguns.
Cupins de madeira
Os cupins são insetos pertencentes à ordem Blattodea e infraordem Isoptera. Elas são comumente confundidas com formigas aladas, embora filogeneticamente sejam mais relacionadas às baratas. Atualmente, existem cerca de 3.000 espécies descritas, das quais 150 são consideradas pragas.
Os cupins são encontrados em praticamente todos os continentes e são insetos eussociais. Eles vivem em uma sociedade com funções diferentes e seus membros diferem em castas. Como nas formigas, você pode distinguir a rainha das operárias, por exemplo.
Enfim, ao contrário de formigas e abelhas, as colônias são lideradas por um homem e uma mulher. O casal reprodutor está junto para a vida toda e a rainha pode viver até 25 anos e botar mais de 1000 ovos por dia. Encontramos 4 famílias diferentes de cupins:
- Família Kalotermitidae: são conhecidos como cupins de madeira seca. Eles produzem suas colônias dentro da própria madeira e possuem adaptações metabólicas para conservar água, o que lhes permite tolerar longos períodos de seca. Suas mandíbulas são modificadas com zinco para poder consumir a madeira seca, muito mais dura do que aquela que tem umidade.
- Família Rhinotermitidae: Eles são cupins primitivos que nidificam no subsolo, geralmente em raízes e tocos. As colônias são pequenas e difíceis de detectar.
- Família Termitidae: O maior número de gêneros e espécies conhecidos é encontrado aqui. Eles constroem ninhos subterrâneos, epígeos e arbóreos.
- Família Thermopsidae: esses cupins fazem seus ninhos em madeira com alto percentual de umidade. Geralmente colonizam tocos, árvores caídas ou colonizadas por fungos.
Algumas curiosidades sobre cupins
Os trabalhadores são responsáveis pela obtenção e processamento dos alimentos. A degradação da madeira é conseguida graças a alguns protozoários com os quais têm uma relação simbiótica. Depois que o alimento é processado, eles o distribuem para o restante da colônia, vomitando e disponibilizando aos demais membros.
Os cupins soldados são os únicos que não conseguem produzir sua própria comida, devido à adaptação de suas mandíbulas para a defesa, enquanto as operárias podem passar por elementos como concreto para acessar a madeira. Além disso, para atingir a microbiota necessária, os juvenis precisam ingerir as fezes dos adultos.
Além de serem insetos que comem madeira, às vezes também são canibais (comem feridos ou doentes), carniçais (consumo de cadáveres) e praticam oofagia (consumo de ovos) para ajudar a manter o cupinzeiro limpo. Sem dúvida, esses insetos tiram vantagem de tudo.
Mariposas de madeira
Esses artrópodes têm um ciclo de vida em 4 fases (ovo, lagarta, crisálida, mariposa) e é na fase da lagarta que se alimentam de madeira. Existem muitas espécies de lepidópteros xilófagos e seu estágio larval pode durar 3 anos e causar danos significativos a várias espécies de árvores. Os seguintes táxons se destacam por sua importância econômica:
- Red Drill Butterfly (Cossus Cossus): assim que o ovo choca, as larvas desta espécie movem-se para o interior da crosta e começam a perfurar um túnel. Alimentam-se de madeira saudável, que podem prever graças a uma substância que segregam na pele. Quando atinge seu tamanho máximo, a larva sai da árvore e termina seu ciclo no subsolo.
- Família Hepialidae: Dentro desta família existe um grande número de espécies que se alimentam de madeira. São relativamente fáceis de identificar, pois vedam a entrada do baú com uma cobertura denominada vestíbulo, que é composta por seda e madeira.
- Aepytussp: a fase larval dura aproximadamente 2 anos e as larvas fazem túneis profundos (até 15 centímetros) em árvores jovens e saudáveis.
Um dos problemas mais recentes encontrados é a grande presença de espécies invasoras de vários lepidópteros comedores de madeira. Sem predadores naturais, eles são uma praga difícil de erradicar. Um exemplo disso éArconte de Paysandisia Na Península Ibérica, uma espécie que causa grandes prejuízos aos palmeirais.
Uma larva de borboleta de broca vermelha.Besouros de madeira
Um dos principais insetos que comem madeira são os besouros. Os besouros são diferenciados por seu aparelho bucal de mastigação e pelo élitro, que é seu primeiro par de asas modificadas como armadura. Seu ciclo de vida consiste em uma metamorfose completa com estágios larval, pupal e imago.
As principais famílias de besouros comedores de madeira são os Cerambycidae, Melolonthidae, Passalidae Y Tenebrionidae. Algumas famílias ou outras podem ser encontradas no ambiente dependendo do grau de decomposição da madeira. As galerias desses insetos costumam ser invadidas por predadores nos últimos estágios de decomposição, por meio das próprias galerias.
Os coleópteros também possuem uma forte relação simbiótica com os microrganismos intestinais. Foi demonstrado que, em muitas espécies, se as larvas - e mesmo os adultos - não se alimentam das fezes, não conseguem digerir a madeira. Dentre os insetos que se alimentam de madeira, destacam-se as seguintes espécies:
- Grande caruncho (Hylotrupes bajulus): os ovos da espécie são depositados em cavidades da madeira. Quando as larvas eclodem, elas se alimentam ao lado dos adultos com grande voracidade. Eles podem ser diferenciados de outras espécies pelo formato irregular das saídas para o exterior e pela grande quantidade de poeira que geram.
- Escaravelho do Relógio da MorteXestobium rufovillosum): seu nome vem do barulho que o macho faz com a cabeça na madeira para atrair as fêmeas. A espécie consome árvores de folha caduca como carvalho e faia, embora também possa ser vista em coníferas. A fase larval dura 3 anos, embora possa ser mais curta se a madeira tiver fungos.
- Mobília comum bicho-da-madeira (Anobium punctatum): é a espécie mais comum e geralmente afeta os móveis das residências. Não causa danos estruturais e, ao contrário de outros besouros, quando as larvas entram em metamorfose são colocadas perto da superfície, uma vez que os besouros adultos carecem de mandíbulas especializadas para comer madeira.
Vespas da madeira
As vespas da madeira pertencem à ordem Hymenoptera. Diferem das outras vespas pelo ovipositor que as fêmeas possuem, especializado em fazer um pequeno furo na madeira e introduzir os ovos. Os mais conhecidos são os da família Siricidae.
Ao contrário de outros insetos comedores de madeira, as larvas dessas vespas se alimentam principalmente de um fungo, com o qual a fêmea reprodutora infecta o tronco. Além disso, eles também adicionam um muco tóxico que impede a circulação de água e nutrientes dentro do tronco, o que pode levar à morte da árvore infectada.
Usualmente, as larvas ocupam troncos ou galhos caídos e árvores doentes, para que não representem grandes problemas para a indústria ou infraestrutura. Quando vão terminar o ciclo, são colocados junto à superfície do tronco. Podem ficar até 5 anos na forma de larvas, dependendo da umidade da madeira. Algumas espécies a destacar são as seguintes:
- Vespa da madeira de pinho (Sirex noctilio): Esta vespa é caracterizada por depositar as suas larvas principalmente em pinheiros vivos, o que normalmente causa a morte. Neste caso, é o fungo que eles inoculam (Amylostereum areolatum) junto com uma toxina que causa mais danos à árvore.
- Vespa gigante da madeira (Urocerus gigas): Esta espécie é normalmente encontrada em madeiras macias de toras derrubadas ou árvores doentes. As larvas podem ficar até 3 anos dentro do tronco e, quando emergem, podem medir de 10 a 40 milímetros de comprimento.
- Urocerus albicornis: Esta espécie também está em simbiose com um fungo. Destaca-se por ser invasor em grande parte do mundo, como no Japão ou na Península Ibérica, onde se acredita que tenha chegado em carregamentos de madeira infectada.
Curiosidades sobre vespas da madeira
Além dessas espécies cujas larvas se alimentam de madeira, existem vários himenópteros que usam a madeira para construir seus ninhos, como a vespa comum (Vespula vulgaris) ou a vespa do papel europeia (Polistes domicula) Para isso, usam suas mandíbulas para obter madeira e fibras e, junto com sua saliva, geram uma pasta de papel com a qual constroem seus ninhos.
Por outro lado, eencontramos vespas que crescem galhas nas árvores, interferindo na produção do fruto, fragilizando a árvore tornando-a sensível a patógenos e fungos que podem causar a morte. Um exemplo bem conhecido é a vespa da castanha (Dryocosmus kuriphilus).
Como tratar os insetos comedores de madeira?
Insetos comedores de madeira são essenciais para o bom funcionamento dos ecossistemas. São ótimos decompositores de matéria orgânica, pois permitem que os nutrientes voltem a entrar no substrato, aumentando frequentemente o rendimento das colheitas.
Além disso, aqueles artrópodes que desempenham suas funções principais na área do solo conseguem um aumento na aeração das raízes e na absorção de água e nutrientes. Eles realizam tarefas tão importantes para os solos quanto vermes.
Por outro lado, muitos desses animais (como cupins) estão começando a ser explorados para consumo humano e a pecuária, pelo alto consumo de proteínas e baixo custo de produção. Mesmo assim, em muitas ocasiões, eles envolvem um conflito com as infraestruturas humanas.
Xilófagos e construções humanas
Detectar o problema por meio de revisões periódicas do material é fundamental para poder combatê-lo. Uma vez localizada, a espécie em questão deve ser identificada e, dependendo disso, alguns tratamentos ou outros serão utilizados.
A melhor técnica para evitar problemas é a prevenção. Para evitar que os insetos xilófagos se instalem em uma instalação, barreiras podem ser colocadas para dificultar a entrada em edifícios ou para impregnar a madeira com certos materiais (como o cromo) para evitar o aparecimento de ninhos.
Se você já tem uma colônia de algum desses animais instalada, pode ser tratada pela introdução de seus predadores naturais, a eliminação de choques térmicos de umidade e calor frio. O uso de inseticidas ou componentes químicos será a última opção, devido a sua alta toxidade e aplicação complexa em muitos casos.
A convivência com esses insetos pode nos levar a conquistar múltiplas vantagens no aumento da produtividade das lavouras (por meio de sua microbiota, aeração do solo e liberação de nutrientes para o meio ambiente). Talvez desta forma a má reputação que possuem possa ser compensada, devido aos prejuízos econômicos que algumas espécies causam ao homem.