Xenotransplantes: o que são e sua evolução

Xenotransplantes são procedimentos cirúrgicos nos quais são implantadas células, tecidos ou órgãos completos de uma espécie filogeneticamente diferente da outra. Por exemplo, de um porco para um ser humano. Há registro de que são praticados há pelo menos 300 anos, com resultados mistos que geraram polêmica na comunidade científica.

Apesar disso, especialistas na área da medicina veem o xenotransplante como uma possível solução para a atual escassez de órgãos. Descubra no conteúdo a seguir as vantagens, desvantagens e perspectivas dessa prática no futuro da saúde humana.

A escassez de órgãos humanos e a necessidade de novas soluções

Segundo dados do Observatório Mundial de Doações e Transplantes, a cada ano são realizados 150.000 transplantes entre seres humanos no mundo. No entanto, em países como os Estados Unidos, as doações continuam muito escassas, razão pela qual cerca de 17 pessoas ainda morrem por dia à espera de um transplante de órgãos vitais como coração, fígado ou rins.

Da mesma forma, o Diretório Europeu para a Qualidade de Medicamentos e Serviços de Saúde determinou que, embora em 2021, 36.000 pacientes tenham recebido um transplante, 41.000 novos pacientes foram adicionados às listas de espera.

Devido a esse problema, médicos e pesquisadores passaram a se interessar pelo uso de órgãos de animais. Especialmente porcos e primatas não humanos (NHP).

Animais usados no xenotransplante

O primeiro caso relatado de xenotransplante ocorreu em 1667, quando o médico francês Jean Baptiste Denis transfundiu sangue de cordeiro a um jovem com febre, obtendo resultados positivos. No entanto, essa prática não teve o mesmo sucesso em outros pacientes, então a xenotransfusão foi proibida na França por muitos anos.

Mais tarde, em 1920, o cirurgião Serge Voronoff transplantou testículos de chimpanzés para um grupo de homens com o objetivo de aumentar a virilidade, energia e resistência. No entanto, os benefícios não foram cientificamente comprovados.

Anos depois, entre 1963 e 1993, vários xenotransplantes de órgãos renais, cardíacos e hepáticos foram realizados de primatas paraseres humanos. Embora a maioria dos pacientes tenha morrido dentro de horas ou dias após o procedimento, houve um caso em que uma pessoa sobreviveu por 9 meses com um rim de chimpanzé sem complicações aparentes.

O problema com primatas não humanos

Embora se possa pensar que os NHPs são os candidatos ideais para o xenotransplante em humanos, a realidade é que sua viabilidade como fonte de órgãos é bastante controversa. Por um lado, por serem animais em extinção, seu uso para esta prática é apresentado como antiético.

Além disso, existe o risco de o receptor desenvolver doenças transmitidas por primatas. Isso, devido à quantidade de informação genética que compartilhamos.

Da mesma forma, na prática tem-se observado que não fornecem órgãos de tamanho adequado para o ser humano. Além de serem rejeitados na maioria dos casos pelo sistema imunológico do humano receptor.

O porco, doador da era atual

Diante dessas desvantagens, a maioria das pesquisas modernas se concentrou em outra espécie, o porco doméstico. Esses porcos, que foram submetidos a inúmeras experiências nos últimos anos, apresentam características ideais para o xenotransplante:

  • Eles possuem semelhança anatômica e funcional com os humanos.
  • Existe um grande número de espécimes em todo o planeta.
  • Sua reprodução é fácil e sua gestação é curta.
  • Pode ser criado livre de patógenos.

No entanto, apesar dos grandes avanços alcançados com a espécie, ainda existem dois grandes problemas com os suínos: a rejeição imunológica e o risco de infecção.

Os obstáculos do xenotransplante

A rejeição ocorre porque o sistema imunológico humano reconhece o órgão transplantado como um corpo estranho. Assim, gera-se uma resposta de anticorpos que se ligam às células endoteliais do enxerto buscando destruí-lo. Essa reação de rejeição pode ocorrer em questão de horas, dias ou meses.

Para resolver isso, pesquisadores têm procurado modificar geneticamente porcos doadores, com o objetivo de enganar o sistema imunológico do receptor.Por exemplo, criar animais transgênicos que expressam genes humanos com capacidades imunomoduladoras que impedem a rejeição.

Em relação à infecção, o risco está no contágio por patógenos específicos em tecidos suínos ou na transmissão de retrovírus alojados no genoma dos suínos. Este último pode infectar silenciosamente os humanos integrando e alterando a composição dos genes, causando doenças ou xenozoonose.

No entanto, graças a técnicas de manipulação genética, como a ferramenta CRISPR, esses retrovírus foram inativados no genoma do porco.

Estudos recentes sobre xenotransplante

No ano de 2022, foi realizado o primeiro transplante de coração de um porco geneticamente modificado para um humano com insuficiência cardíaca terminal. A princípio não houve rejeição por parte do indivíduo receptor.

No entanto, ele morreu após oito semanas de desenvolvimento de uma infecção por herpesvírus suíno. Este vírus, que causa a doença de Aujeszky em porcos, não pôde ser identificado em estudos anteriores ao transplante.

Por outro lado, um artigo recente publicado no The New England Journal of Medicine relatou que os rins de porcos transgênicos funcionaram bem no corpo de duas pessoas. No entanto, este foi um estudo mais experimental e demonstrativo, pois os pacientes humanos estavam com morte cerebral.

Os xenotransplantes são uma solução possível?

Sem dúvida, a demanda de órgãos por seres humanos é um problema latente. Além disso, com o crescimento exponencial da população nos últimos anos, espera-se que a necessidade de transplantes aumente.

Embora o xenotransplante possa fornecer um suprimento ilimitado de órgãos, ainda há muitas questões que a ciência deve abordar antes de implementar essa técnica rotineiramente.

Portanto, mais pesquisas são necessárias para apoiar o xenotransplante como uma prática segura e funcional por longos períodos de tempo.

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