Por pouco que assistamos aos noticiários, não é difícil encontrar manchetes onde fazendeiros e pastores demonizam grandes predadores, como lobos ou ursos. Os caçadores estão na linha de frente da batalha contra esses animais que, embora protegidos por lei, acabam sendo baleados.
Em contraste, também podemos observar como outros grupos de pessoas tentam salvá-los a todo custo, de forma que criminalizam as pessoas que tentam sobreviver em um mundo rural cada vez mais abandonado.
Em algumas partes da Europa outra ideia parece estar crescendo: a coexistência com grandes predadores.O documentário do World Wildlife Fund (WWF) “En tierra de todos” nos fala sobre isso. Este grande projeto audiovisual mostra as experiências e testemunhos de mais de 30 agricultores em toda a Europa, que aprenderam a conviver com estes animais.
Qual é o propósito do documentário WWF “En tierra de todos”?
Por trás do documentário WWF “En tierra de todos”, encontramos um grande projeto LIFE. O objetivo deste grande programa é conseguir a coexistência entre humanos e grandes carnívoros na Europa. Alcançar esse objetivo não é fácil, mas eles tentam, não por meio de leis proibitivas ou ódio de um lado ou de outro, mas por meio da comunicação. A ligação entre os diferentes agricultores de todo o continente, para que possam contar as suas experiências e partilhar todo o seu conhecimento.
Do ódio ao profundo respeito
Uma das pessoas entrevistadas no documentário é Sofía González Berdasco, pastora de cabras na região sul do rio Douro, na Espanha.Esta mulher, como muitos outros fazendeiros, cresceu com um profundo terror e ódio do lobo. Foi isso que ela viveu desde pequena, como ela mesma diz: “contos como Chapeuzinho Vermelho, mas reais”.
Sofía enfrentou um abismo muito profundo até conseguir não só respeitar o lobo, mas amá-lo e querer que eles vivessem como suas cabras.
O começo da prevenção
Neste mesmo documentário, o pastor Fernando Rodríguez Tabara dá seu testemunho. Acima de tudo, deixe claro que você entende o papel dos grandes predadores na natureza e como eles são necessários.
Como seus colegas, Fernando viu como o lobo predava suas vacas, mas ao contrário deles, decidiu implementar uma ideia para protegê-las.
Fernando adotou e treinou mastins para proteger seus ruminantes. Isso nunca havia sido feito e, portanto, é incomum. Ele comenta que desde que tomou essa medida, os lobos não se aproximam.
O conflito com grandes predadores na Europa
Pode parecer recente, mas o conflito entre os seres humanos e animais como o lobo, o lince, o urso ou o wolverine, é tão antigo quanto o gado, que surgiu no Neolítico.
Grandes carnívoros, também chamados de predadores de topo, desempenham um papel fundamental na manutenção dos ecossistemas. A biodiversidade das regiões depende deles. Sua principal função é afastar outros pequenos predadores, como as raposas, animais bem mais generalistas.
Por outro lado, esses animais regulam as populações de herbívoros, como veados ou javalis. Estes últimos costumam aparecer na imprensa devido à óbvia superpopulação e sua proximidade com as cidades. Isso se deve, por um lado, à destruição de seu habitat e, por outro, à facilidade de reprodução por não possuírem predadores naturais.
Historicamente, grandes populações de carnívoros foram regulamentadas, principalmente para melhorar a segurança do gado. Para que seu pastor não precise estar sempre presente para defendê-los. Essa é mais uma das visões do documentário, em que um de seus entrevistados mostra sua reprovação aos fazendeiros que são capazes de dormir sem deixar seus animais protegidos.
Reflexão final
Após assistir ao documentário e investigar mais sobre esse projeto inovador, podemos concluir que, para que haja convivência, antes de tudo, deve haver prevenção.
Como nos diz Fernando, os diferentes governos devem recompensar os fazendeiros que se esforçam para impedir que os predadores tenham acesso ao seu gado. Porém, hoje em dia, a tendência é subsidiar aquelas pessoas cujo gado supostamente morre sob as garras desses animais.