Existem muitas razões para se fascinar por tubarões. No entanto, a crença de que os tubarões não adoecem não está na lista. Para apreciar esses titãs do mar, devemos nos aproximar de sua maravilhosa biologia.
A primeira coisa é saber que os tubarões existem neste mundo desde muito antes da Era dos Dinossauros. Na verdade, seu registro evolutivo remonta a cerca de 450 milhões de anos atrás. Portanto, essas criaturas têm adaptações que lhes permitiram sobreviver onde muitas outras não sobreviveram.
Uma de suas características mais marcantes, que eles compartilham com seus parentes, é que eles não têm um único osso em seus corpos.Seus esqueletos são feitos inteiramente de cartilagem.Além disso, um tubarão pode produzir mais de 30.000 dentes durante sua vida. Assim, quando um dente se desgasta, ele cai e é substituído por outro das fileiras de trás.
É um mito que os tubarões não ficam doentes
O mito de que os tubarões não adoecem alimenta as redes sociais, pois é comum ler-se que estes são os únicos animais que nunca adoecem ou mesmo são imunes a todas as doenças conhecidas, inclusive o câncer.
No início dos anos 90, tornou-se famoso um livro não científico que "revelou" como a cartilagem de tubarão poderia salvar pacientes com câncer. Embora o jornal não afirme que os tubarões nunca tenham câncer, ele argumenta que tumores sólidos raramente ocorrem em tubarões.
As supostas propriedades milagrosas do uso de cartilagem de tubarão no câncer
A primeira coisa para entender esses argumentos é o conceito de angiogênese. Esta palavra refere-se ao processo pelo qual novos vasos sanguíneos se desenvolvem a partir da vasculatura existente. Assim, a angiogênese é a formação de novos capilares nos tecidos.
Por outro lado, a angiogênese é comum em muitos tipos de tumores e está associada ao crescimento tumoral. Além disso, não há vasos sanguíneos na cartilagem, ou seja, ela é avascular.
Tumores malignos envolvendo cartilagem raramente se desenvolvem. Por esses motivos, o mercado de produtos alternativos considera a cartilagem uma fonte de compostos antiangiogênicos.
Ciência refuta o mito de que tubarões não adoecem
Ao contrário da crença popular, o fato de os tubarões sofrerem de várias doenças é inquestionável. Sem dúvida, relatórios científicos registraram a incidência de câncer em tubarões, incluindo condromas (cânceres de cartilagem).
Até agora, tumores foram documentados em pelo menos 23 espécies de tubarões. É possível que os relatos de casos aumentem à medida que a pesquisa direcionada sobre o câncer em tubarões aumenta.
Deve-se notar que, embora a cartilagem possa ter propriedades antiangiogênicas, sua eficácia como tratamento não foi comprovada. Em outras palavras, a ingestão oral de pó de cartilagem de tubarão não relata efeitos preventivos contra o aparecimento de tumores cancerígenos.
Cartilagem de tubarão é inútil na terapia do câncer
Deve-se notar que um composto chamado Neovastat, extraído da cartilagem de tubarão, foi avaliado em combinação com quimioterapia em um ensaio clínico de fase III para câncer de pulmão. No entanto, após mais de seis anos de acompanhamento, o ensaio foi encerrado por f alta de eficácia terapêutica.
A mesma sorte teve o ensaio clínico de Fase II para carcinoma de células renais refratário. O mesmo aconteceu em ensaios com pacientes com câncer de mama e cólon.
Não houve melhora na sobrevida global em nenhum desses estudos. Apesar desses resultados negativos no câncer, o mercado agora tenta associá-los ao tratamento de doenças como a psoríase.
Embora nenhum estudo tenha mostrado que a cartilagem de tubarão é um tratamento eficaz, a demanda pela cartilagem ajudou a dizimar as populações de tubarões.
A importância dos tubarões no ecossistema marinho
De acordo com um estudo de 2013, os humanos matam cerca de 100 milhões de tubarões por ano. Deve-se notar que a sobrepesca desses animais se deve às demandas por sua carne, óleo de fígado, cartilagem e valiosas barbatanas. A barbatana é muitas vezes cortada de tubarões vivos, para uso na sopa de barbatana de tubarão, uma iguaria asiática antiga e apreciada.
É importante notar que o esgotamento das populações de tubarões é preocupante porque, como predadores de ponta, eles ajudam a equilibrar os ecossistemas nos oceanos do mundo. Se não tivermos predadores suficientes, ocorrem mudanças em cascata no ecossistema, afetando até mesmo as plantas marinhas.
Progressivamente, organizações como a Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas de Fauna e Flora Selvagens (CITES), ampliam a lista de espécies de tubarões com proteção comercial. No entanto, essas iniciativas podem demorar.
A reprodução do tubarão é variada e complexa
Dependendo da espécie, os tubarões se reproduzem de três formas:
- Oviparidade: põem ovos e os depositam em local seguro para incubar.
- Viviparidade: os tubarões nascem vivos diretamente.
- Ovoviviparidade: eles carregam seus filhotes em sacos de ovos que eclodem no útero, se desenvolvem no corpo da mãe e nascem como tubarões vivos. A última é uma combinação das duas primeiras estratégias.
Além disso, a duração da gestação varia com a espécie de tubarão, podendo durar entre 5 e 42 meses.Além disso, a ninhada pode ter entre dois (vivíparos) e 100 (ovíparos) filhotes. A principal consequência de períodos de gestação muito longos é que as espécies vulneráveis de tubarões se recuperam em número muito lentamente.
Como os tubarões têm taxas reprodutivas e de crescimento lentas, pode ser difícil para suas populações se recuperarem de grandes perdas.
Conservação e conhecimento
A sociedade é um maquinário que pode ditar o padrão de comportamento de um paciente, o tipo de tratamento que ele busca e aquele que finalmente realiza. Portanto, é preciso considerar que falsas crenças sociais criam obstáculos intransponíveis.
É importante ter em mente que as informações que obtemos da internet e da mídia impressa não são regulamentadas e podem apresentar pontos de vista extremos que agravam os problemas existentes.Claro, o comércio de materiais de tubarões para combater o câncer é um exemplo claro da ignorância humana.
