Embora essa prática seja desencorajada agora, a verdade é que as raposas foram domesticadas há milênios. Claro que não se trata de animais de estimação como se pode ver agora nas redes sociais, mas de animais que conviviam com humanos e eram explorados para causas específicas em troca de comida e abrigo.
Um novo estudo analisou a presença de restos de raposas em vestígios arqueológicos, tentando explicar o papel que esses animais desempenharam nas sociedades da época. As implicações desta domesticação refletem-se, sobretudo, na alimentação e nas amostras de cultura recolhidas nas escavações.Vamos ver em detalhes.
Quando e onde as raposas foram domesticadas?
Relativamente à Península Ibérica, já existem vestígios arqueológicos que evidenciam a coexistência entre humanos e canídeos desde o terceiro e segundo milénios aC (ou seja, na Idade do Bronze). Sabe-se que eles foram domesticados porque os restos de sua dieta eram semelhantes aos de seus humanos.
No caso dos cães, essa domesticação dura até hoje, dando origem a centenas de fenótipos diferentes. A sua exploração foi diversificada para diferentes fins e foram artificialmente cruzadas para obter espécimes adequados para cada função.
No caso das raposas, parece que em algum momento essa domesticação foi interrompida e elas retornaram à sua vida selvagem sem que seu fenótipo e genótipo fossem tão alterados quanto o do cão. Sendo este último mais dócil e forte, acabou por ser a escolha para proteger e acompanhar os humanos nas suas tarefas.
O estudo e as descobertas dos depósitos
Este estudo analisou 2 sites em Barcelona (Can Roqueta) e Lleida (Minferri). Ali, durante a Idade do Bronze, difundiu-se um tipo de ritual fúnebre que consistia em enterrar os humanos junto com os animais que os acompanhavam. Graças a esta prática, foi possível analisar 37 canídeos e 64 humanos.
Para isso, foram medidos os isótopos estáveis de carbono e nitrogênio presentes no colágeno ósseo, método utilizado para saber como era a alimentação do indivíduo. Além disso, foram utilizados dados obtidos de outros restos encontrados nas tumbas, como ossos de ungulados.
Dieta comparativa: a chave para descobrir como as raposas foram domesticadas
Parte da domesticação do cão consistiu na modificação gradual de seu sistema digestivo, que passou de animal estritamente carnívoro para onívoro. Isso aconteceu porque eles se alimentavam das mesmas coisas que nós humanos comíamos.
Portanto, a tolerância a alimentos vegetais pode ser tomada como uma medida de domesticação de certas espécies; neste caso, da raposa. E o fato é que o estudo constatou que as raposas do sítio Minferri haviam, em diversas ocasiões, se alimentado de forma onívora.
No entanto, há uma sutil diferença entre os cães e as raposas nesses locais. Enquanto as primeiras já comiam praticamente o mesmo que seus donos, as raposas variavam entre uma dieta carnívora e onívora dependendo do espécime. Além disso, alguns cães pareciam receber mais comida do que outros, pois eram explorados para carregar cargas (como observado em suas lesões na coluna) e exigiam mais energia.
O curioso caso da raposa Can Roqueta
Vale citar um caso curioso de domesticação de raposas. No sítio Can Roqueta, foram encontrados os restos mortais de uma raposa idosa enterrada com seu humano.Este espécime tinha uma perna fraturada, mas estava em processo de cicatrização graças ao fato de alguém de nossa espécie a ter imobilizado.
Além disso, sua dieta era muito parecida com a que um cachorro come quando é desmamado. Portanto, os pesquisadores deduziram que se trata de um animal que viveu toda a sua vida ao lado dos humanos, totalmente domesticado.
Existem raposas domesticadas hoje?
Muitos dos canídeos que hoje convivem conosco servem apenas de companhia. Ou seja, são dóceis, obedientes e sociáveis com os humanos graças a uma longa história de seleção artificial.
Com certeza, se você está lendo este artigo, já deve ter visto vídeos nas redes sociais de raposas se comportando como animais de estimação, de forma semelhante aos cachorros. No entanto, é necessário trazer à tona o debate sobre o mascotismo. As raposas não estão acostumadas com a vida que nós humanos levamos neste período de tempo.
Só porque as raposas acompanharam nossos ancestrais na Idade do Bronze não significa que elas possam ser retiradas da natureza e esperar que se comportem como cães. A ética e os valores de liberdade e respeito aos animais devem sempre prevalecer na escolha de um parceiro não humano. Eles só querem viver suas vidas e não devemos tirar isso por capricho.