A capacidade de perceber o medo através do olfato está muito bem documentada naqueles animais que também têm a capacidade de sentir estresse e medo. Essas espécies produzem sinais químicos de alerta, que podem causar alterações de comportamento, por meio de variações endócrinas ou imunológicas. Essas mudanças podem ocorrer tanto em si mesmo quanto em um receptor, sempre da mesma espécie.
Então, um predador poderia sentir o cheiro do medo de sua presa? Se focarmos na afirmação anterior, não seria possível um animal perceber o medo de um indivíduo de outra espécie.No entanto, as alterações comportamentais que um animal sofre ao sentir medo podem ser detectadas por outros indivíduos de outra espécie, desde que saibam como essa espécie se comporta diante do medo.
Os sistemas olfativos
Nos animais vertebrados –embora não em todos– existem dois sistemas olfativos diferentes. Por um lado, encontramos o sistema olfativo principal, responsável pela detecção consciente de moléculas voláteis no ar. Por exemplo, o cheiro de uma flor, café, especiarias, odor corporal de animais, etc.
Quando sentimos o cheiro dessas partículas, estamos respirando-as diretamente. Estes se ligam aos receptores olfativos nas narinas e a informação chega ao cérebro. Estados emocionais, como medo, geralmente não são considerados capazes de gerar moléculas de odor carregadas.
Por outro lado, temos o sistema olfativo acessório, chamado de órgão vomeronasal.Essa estrutura está localizada acima do palato mole da boca, abaixo da cavidade nasal. Aqui, moléculas odoríferas altamente específicas são detectadas e a informação passa pelo bulbo olfativo.
Os nervos olfativos, tanto do sistema principal quanto do acessório, transportam informações para o sistema límbico, que é a parte do cérebro responsável pela percepção e resposta emocional. Este sistema olfativo acessório não detecta moléculas de ar. Na verdade, ele foi projetado para “ler” mensagens de feromônio não voláteis.
Feromônios são substâncias químicas comunicativas que emitem informações sobre território, agressão e reprodução.
É possível perceber o medo pelo olfato?
O papel do sistema olfativo acessório na comunicação social pode sugerir que o medo pode ser comunicado através do olfato.Isso porque as substâncias detectadas são processadas e interpretadas no sistema límbico, cujo órgão primário é a amígdala. Essa estrutura é responsável por perceber e responder ao medo.
Por outro lado, segundo estudos, a comunicação por feromônios ocorre exclusivamente entre membros da mesma espécie. Este fato torna impossível para qualquer animal sentir o cheiro do medo de outra espécie através do sistema olfativo acessório.
Por esse motivo, sugere-se que a sensação de medo que um animal pode perceber dependerá mais dos padrões comportamentais dados pelos sinais olfativos.
Por exemplo, em cavalos, os estímulos visuais e auditivos são os mais importantes na ativação de respostas comportamentais, apesar de ser um dos animais com melhor olfato.
Quando uma pessoa medrosa monta um cavalo, ela já sabe que está com medo pela postura corporal e, é muito provável que o cavalo não responda aos comandos, que geralmente são abruptos em pessoas com medo, pois aprendeu com os tempos anteriores.
Animais podem sentir o cheiro do medo de seus semelhantes
Em vários estudos com aves, moluscos ou artrópodes, conclui-se que o medo pode se manifestar após a percepção de certas substâncias químicas.
Em algumas espécies de caracóis marinhos, quando um indivíduo é atacado e ferido, libera substâncias para alertar membros da mesma espécie, que tendem a fugir ou se esconder. O mesmo vale para várias espécies de caranguejos.
Em uma espécie de ave, embora ainda se discuta se são ou não capazes de cheirar, descobriu-se que, quando os filhotes têm medo, eles vomitam uma substância altamente odorífera que alerta os pais, que muitas vezes, por sua vez, evitam se aproximar do ninho para evitar serem atacados.
Então, os animais podem perceber o medo pelo olfato?
Existe uma percepção de medo entre os indivíduos. No entanto, não é provável que isso seja causado pelo cheiro, mas por comportamentos específicos.
Outros estudos tentaram demonstrar a percepção olfativa do cortisol, hormônio do estresse liberado em situações de medo. No entanto, eles não obtiveram resultados conclusivos ou demonstraram a capacidade de detectar o cortisol pelo olfato.
