Ubirajara jubatus: o dinossauro guará

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Anonim

Atualmente, muitas aves possuem estruturas marcantes e complexas, que desempenham um papel importante no comportamento social e reprodutivo, bem como na comunicação. O saco gular vermelho da fragata pelágica (Fregata minor) ou as penas do pavão (Pavo cristatus) são exemplos claros disso.

Essas estruturas são caras para produzir, manter ou usar. Além disso, podem dificultar até certo ponto a vida do animal. Assim, eles servem como um sinal honesto da qualidade do indivíduo que os carrega e são amplamente utilizados como sistemas de seleção de parceiros no mundo animal.

No entanto, essas estruturas dificilmente haviam sido encontradas entre os dinossauros, pelo menos até recentemente. Uma investigação recente e controversa descobriu Ubirajara jubatus, um predador que demonstra orgulho. Aqui contamos tudo sobre ele.

Características de Ubirajara jubatus

Ubirajara jubatus é uma espécie de compsognathid, uma família de terópodes cujos membros mais famosos são Compsognathus e Sinosauropteryx. Como tal, é um dinossauro relativamente pequeno: tinha apenas 0,5 metros de altura e 1,40 metros de comprimento, cauda incluída.

Como o resto dos compsognathids, este dinossauro era bípede. Tinha patas traseiras longas e poderosas, projetadas para correr. A cauda era muito longa, mais longa que o resto do corpo junto.

As patas dianteiras eram curtas, mas não a ponto de um tiranossaurídeo. Esses animais agora extintos tinham 3 dedos longos terminando em garras. O pescoço também era bastante alongado e a cabeça pequena, fina e pontiaguda.

Penas e outras aparências peculiares

Os aspectos mais marcantes do antigo réptil estavam do lado de fora.Ubirajara jubatus estava completamente coberto de penas arcaicas, semelhantes a uma ave moderna. Às vezes chamadas de protopenas, essas estruturas eram filamentosas, mais parecidas com pelos à distância.

Apesar disso, essas protopenas nada têm a ver com pelos reais, que só aparecem em mamíferos. Os braços e dedos do animal também estavam cobertos com eles, mas não apresentavam penas desenvolvidas. Isso ocorre em dromeossaurídeos, pássaros e outros tipos de dinossauros alados.

Os filamentos eram especialmente longos atrás da base do pescoço, correndo ao longo das costas do animal. Estes formavam uma juba impressionante que podia ser dobrada para trás ou levantada, graças aos músculos superficiais.

Essa juba é única entre os dinossauros, mas Ubirajara jubatus possui uma característica ainda mais estranha: um par de estruturas sólidas empoleiradas em cada ombro. O superior media cerca de 15 centímetros de comprimento e 4,5 milímetros de largura.O inferior, com 14 centímetros de comprimento e 2,5 milímetros de largura.

Essas “varas” surgiram do mesmo ponto em cada ombro. É possível que eles possam se contrair e se desdobrar à vontade. Assim, eles poderiam desempenhar um papel importante na comunicação social e na reprodução dos compsognatídeos.

Até agora, nenhuma estrutura semelhante foi encontrada em outras formas de vida. Os autores do estudo, publicado na Cretaceous Research em 2020, apontam a ave-do-paraíso de Wallace (Semioptera wallacii) como o caso mais próximo.

Descoberta e polêmica por trás do Ubirajara jubatus

Ubirajara jubatus viveu no atual Brasil, cerca de 110-120 milhões de anos atrás. O fóssil foi encontrado no nordeste deste país, provavelmente por um trabalhador das pedreiras de calcário da região. Depois disso, foi adquirido por pesquisadores europeus em 1995 e transportado para uma coleção na Alemanha.

Nesta última etapa reside um grave problema, que tem gerado polêmica e causado a retirada do artigo da revista científica que o publicou. Pela lei brasileira, os fósseis do país são públicos. Sua venda para outros países é ilegal desde 1942.

Essa lei surgiu para combater a exportação excessiva de fósseis para a Europa ou América do Norte, que tira dos paleontólogos brasileiros a oportunidade de estudá-los e fazer suas próprias descobertas. Além disso, priva o Brasil e outros países afins de manter seu próprio patrimônio paleontológico.

Apesar disso, um profundo mercado negro tem contrabandeado fósseis para fora do país por décadas. Essas relíquias costumam passar para as mãos de paleontólogos de países de primeiro mundo, que divulgam suas descobertas sem contar com profissionais brasileiros. Os fósseis nunca retornam ao seu país de origem.

Resposta dos autores

A equipe por trás da descoberta de Ubirajara afirma que o fóssil foi obtido com autorização oficial, mas cientistas e instituições brasileiras questionam isso. Para eles, essa situação é muito comum e conhecida. Eles pedem que seja iniciada uma investigação após este caso e que os fósseis ilegais sejam devolvidos.

Deve-se notar que um dos paleontólogos por trás da descoberta, Dave Martill, é veementemente contra as leis brasileiras. Essas leis visam eliminar a longa história de colonialismo científico, mas, em sua opinião, são muito rígidas e atrapalham a ciência.

De acordo com Martill, a compra de fósseis os garante para estudo científico. Este autor esteve envolvido em outros escândalos semelhantes, envolvendo fósseis de origem duvidosa. Além disso, ele foi acusado de evitar a colaboração com paleontólogos brasileiros.

Ubirajara simboliza o melhor e o pior da ciência. Por um lado, é uma descoberta fascinante que ajuda a compreender a história evolutiva do planeta. Por outro, ilustra as práticas antiéticas usadas em seu nome.