Sons antropogênicos subaquáticos contínuos passam despercebidos por nós, mas não pelos animais marinhos. Nesse caso, um novo estudo descobriu que o barulho dos barcos está afetando a reprodução dos caranguejos, interferindo nos sinais necessários para o namoro.
O experimento, feito com animais em cativeiro, comprova essa afirmação, mas também inclui os crustáceos entre os afetados pelo ruído antrópico dos mares. Até agora, as pesquisas se concentravam em mamíferos e peixes, sem levar em conta outras espécies. Portanto, vamos ver com cuidado como eles chegaram às suas conclusões.
Como o ruído do navio afeta a vida marinha
Embora nós, criaturas terrestres, não percebamos o barulho que provocamos na água, a verdade é que somos os principais emissores dele neste ambiente. Navios, expedições, plataformas de petróleo, toda nossa atividade offshore é uma invasão do habitat dos não humanos que o habitam.
Porém, essa poluição sonora existe e não pode ser ignorada. Embora este último estudo trate de crustáceos, os efeitos do ruído subaquático são diversos:
- Atrapalhou a comunicação sonora dos animais, pois a cacofonia dos sons antropogênicos mascara os da fauna marinha.
- Desorienta espécies que navegam por ecolocalização, como os cetáceos.
- Ao comprometer a capacidade auditiva dos animais, ocorrem alterações fisiológicas e comportamentais que afetam a sobrevivência da espécie, como é o caso dos caranguejos em questão.
- O ruído viaja mais rápido e mais longe na água, então esses sons têm um efeito mais amplo do que na terra.
A relevância dessa poluição sonora já foi enfatizada, veremos nosso caso específico a seguir. Não perca nada.
O estudo que liga o barulho dos navios e a vida sexual dos caranguejos
Esta pesquisa foi publicada em outubro de 2022, um experimento desenvolvido para verificar o efeito que os ruídos antropogênicos tiveram no acasalamento do caranguejo-do-mar comum (Carcinus maenas). Além de incluir os crustáceos na lista de animais acometidos, foi demonstrado que não é necessário que o ruído afete exclusivamente os sinais acústicos para causar desgaste.
Os rituais de acasalamento costumam colocar os espécimes em situações vulneráveis, onde qualquer estímulo pode ser percebido como um perigo.Por esse motivo, embora os sinais sonoros não sejam essenciais no namoro do caranguejo-do-mar, eles podem interrompê-los. Além disso, as fêmeas também podem variar suas escolhas (ou não fazê-las) se perceberem que as condições ambientais não são ideais para o acasalamento.
O método
O estudo projetou um experimento com várias condições. Em cada um deles, o caranguejo macho foi exposto a um modelo de fêmea impregnada com feromônios de acasalamento. Ao mesmo tempo, uma gravação de ruído antropogênico foi tocada em diferentes intensidades, uma para cada condição. Em seguida, foi estudado o comportamento do crustáceo em comparação com a condição controle, que não apresentava ruído.
Resultados: barulho de navio afeta comportamento sexual de caranguejos
A hipótese levantada pelo estudo foi cumprida: embora os caranguejos machos sempre reagissem aos feromônios femininos, nem sempre realizavam comportamentos sexuais.Essa alteração foi acentuada nas condições de maior intensidade de ruído. Portanto, concluiu-se que era muito possível que na natureza isso funcionasse da mesma forma.
Embora o acasalamento de Carcinus maenas não dependa inteiramente de sinais acústicos, a presença de ruído antropogênico afeta seu comportamento de corte como fator de estresse ambiental.
A importância do silêncio
A poluição sonora foi relegada a segundo plano na luta pelo meio ambiente. Embora seja verdade que os derrames, a poluição e outras formas de contaminação ambiental têm um impacto grave no mundo, o ruído também tem consequências graves. O silêncio é escasso onde muitos humanos se reúnem, especialmente quando eles se reúnem para poucos se enriquecerem.
Nem só os animais marinhos sofrem os efeitos do ruído antrópico.Algumas aves, por exemplo, têm sua capacidade de cantar reduzida pelo ruído do trânsito. Também nos afeta de acordo com um relatório da Agência Ambiental Europeia, que afirma que 1 em cada 5 pessoas está exposta a níveis nocivos de ruído.
Quando essa realidade vai mudar? O que é necessário para que o barulho dos barcos pare de incomodar os caranguejos e outros animais? O amor pelo silêncio ganha cada vez mais presença no imaginário da população, submetida, como o resto da espécie, a um ruído que não lhes permite viver em paz.
