O processo de domesticação dos cães, que já dura vários séculos, continua a gerar muitas curiosidades. Um deles é, sem dúvida, o motivo pelo qual há cães com orelhas caídas e outros que mantêm as orelhas eretas de seus ancestrais lobos.
Para analisar essa curiosidade, a seguir veremos o aspecto evolutivo e a influência humana que pode explicar essas diferenças estéticas.
Perguntas de Darwin sobre cães com orelhas caídas
Por muitos séculos, pesquisadores acreditam que orelhas caídas são, mais do que tudo, uma característica de certas raças. Conseqüentemente, a intervenção humana durante o processo de padronização das raças caninas costumava ser atribuída como o principal fator para a perpetuação dessa característica em alguns cães, e não em outros.
No entanto, alguns estudos recentes apontaram novamente para uma velha teoria proposta por Charles Darwin. O famoso naturalista britânico costumava associar a existência de cães com orelhas caídas ao processo de domesticação.
Essa hipótese, pertencente a sua extensa bibliografia sobre o processo evolutivo das espécies, não recebeu muita atenção desde o século XIX. No entanto, isso pode mudar agora que muitos cientistas parecem endossar o que chamam de síndrome de domesticação em cães.
O que é a síndrome de domesticação em cães?
Para responder a essa pergunta, precisamos falar um pouco sobre a domesticação de cães. Em primeiro lugar, você precisa entender que é um longo processo que poderia ter começado há cerca de 20.000 anos.
Ao longo desses séculos, os cães passaram por inúmeras mudanças fisiológicas, estéticas, genéticas e comportamentais em relação aos seus ancestrais lobos. Justamente, são essas mudanças que têm permitido que eles se diferenciem a ponto de gerar uma nova espécie dentro da família dos canídeos.
Um dos grandes mistérios dos cães domésticos é entender como eles começaram a ser: os lobos mais mansos se aproximaram de aldeias humanas em busca de calor e abrigo. Então, os homens perceberam que a presença desses lobos poderia ser muito benéfica para ambas as partes.
Anos depois, os homens também perceberam que, por meio de cruzamentos seletivos, eles poderiam obter, realçar ou controlar certos traços estéticos e instintivos em cães.
Com essas ações, foi possível obter exemplares ideais para caça, pastejo ou simplesmente indivíduos que atendessem aos padrões estéticos apreciados em sua época e sociedade.
Qual é a relação entre cães com orelhas caídas e a síndrome da domesticação?
Como Darwin parecia supor no século 19, o processo de domesticação teve um impacto na aparência e no comportamento dos cães. Atualmente, falamos da síndrome da domesticação, que compreende as várias alterações observadas na morfologia de um animal que estão relacionadas ao processo de domesticação.
Nos cachorros, essas alterações morfológicas tornam-se bastante evidentes quando comparadas aos lobos. Alguns exemplos são: a mandíbula e os menores dentes, as manchas ou alterações na pigmentação da pelagem e as orelhas caídas.
De acordo com os especialistas, cães com orelhas caídas apresentam uma ligeira deficiência de células derivadas da crista neuronal. Como consequência desse déficit, as células-tronco embrionárias não podem ter um desempenho ideal na formação do tecido cartilaginoso das orelhas, o que faz com que elas "caiam" e não fiquem eretas.
Essa deficiência não seria acidental, mas resultaria de intervenção humana nos cruzamentos para criar e padronizar as diferentes raças caninas. Desde o início do processo de domesticação, o ser humano tendeu a escolher os espécimes mais calmos e sociáveis.
Células da crista neural e adrenalina
Possivelmente uma das razões por que lobos existiam menos agressivos do que outros era precisamente uma concentração mais baixa de células da crista neural.
Além de gerar algumas alterações morfológicas, como orelhas caídas, Esta produção diminuída de células da crista neural também reduz a secreção de adrenalina, o que torna os indivíduos mais dóceis e menos reativos ao contato humano.
Ao selecionar e acasalar os lobos mais sociais, várias gerações nasceram com deficiências celulares da crista neural, que que tem permitido obter espécimes com comportamento cada vez mais amigável e menos como canídeos selvagens.
Subseqüentemente, orelhas caídas se tornaram uma característica altamente valorizada em certas raças de cães, especialmente aqueles treinados para a caça. Por esse motivo, tem-se procurado exagerá-lo em alguns cães, como o beagle, o basset hound e o cocker spaniel.