Em essência, a anisocoria em cães pode ser definida como assimetria no tamanho das pupilas. Ou seja, um está mais dilatado ou contraído que o outro. Embora não seja uma patologia em si, seu aparecimento está relacionado a alterações nos sistemas ocular, nervoso e auditivo.
Por isso, é importante que você conheça a origem da anisocoria em seu animal de estimação, para poder atendê-lo em tempo hábil. Descubra no conteúdo a seguir todos os aspectos relacionados a esse incomum distúrbio pupilar.
Dilatação e contração pupilar
A pupila é a estrutura preta encontrada no centro da íris.No canino, seu formato é sempre redondo, e é semelhante à abertura do diafragma de uma câmera: tem a função de regular a entrada de luz no olho, principalmente na retina. Ele faz isso por meio de dois processos conhecidos como dilatação e contração pupilar.
A primeira ocorre quando há um estímulo luminoso muito fraco. Em resposta, o sistema nervoso simpático (SNS) é responsável por aumentar o tamanho da pupila, a fim de obter o máximo de luz possível. Isso é conhecido como midríase.
Por sua vez, o contrário ocorre na contração pupilar. Quando há muitos estímulos luminosos, o sistema nervoso parassimpático (SNP) é responsável por fechar a pupila, para reduzir a entrada de luz nela. Esse fenômeno é chamado de miose.

Causas de anisocoria em cães
A professora associada da Escola de Medicina Veterinária da Universidade do Arizona, Ryane Englar, garante em seu livro Common Clinical Presentations in Dogs and Cats, publicado em 2019, que “a anisocoria pode ser resultado de uma doença ocular primária ou doença neurológica primária”.
Isso significa que a diferença no tamanho das pupilas do seu cão pode ser uma manifestação de um distúrbio que pode ocorrer nos sistemas visual ou nervoso. Vamos analisar as causas mais comuns.
Causas oculares
A anisocoria pode ser uma condição secundária de doenças oculares ou disfunções no nervo óptico, responsável pela transmissão de estímulos visuais da retina para o cérebro.
Assimetrias no tamanho das pupilas também podem ocorrer, como resultado do contato visual do cachorro com certas plantas e substâncias. Quando for o caso, nos referimos a causas oftalmológicas ou oculares. Entre eles estão os seguintes:
- Drogas: atropina e tropicamida causam midríase na pupila, enquanto a pilocarpina causa miose.
- Toxicose por brometo: a administração de brometo de potássio, combinado com fenobarbital, é comum no tratamento da epilepsia idiopática. No entanto, seu excesso pode causar uma toxicose, conhecida como bromismo, que por sua vez pode causar anisocoria.
- Exposição a plantas tóxicas: existem certos compostos ou materiais biológicos que podem causar irritação ocular e anisocoria em cães, quando ocorre contato direto com os olhos. Jimson Weed (Data stramonium) é uma planta que causa esta doença ocular em caninos.
- Uveíte anterior: é a inflamação da íris -onde fica a pupila- e parte da camada média da parede ocular, chamada de corpo ciliar. Isso afeta o esfíncter pupilar, e é por isso que a midríase é gerada quando a pupila não consegue se contrair.
- Hipoplasia da íris: é uma condição na qual a íris não se desenvolve de maneira ideal ou é muito fina. Em caninos pode ser congênita ou secundária a inflamação da íris.
- Atrofia da íris: esta degeneração está associada ao envelhecimento do canino e produz a midríase.
- Sinéquia posterior: quando a íris adere à cápsula do cristalino, o humor aquoso é bloqueado. A pupila pode ter um formato anormal no olho afetado.
- Glaucoma: consiste no aumento da pressão intraocular, produto do acúmulo do humor aquoso. A progressão dessa doença causa danos ao nervo óptico, com a consequente perda da visão. Da mesma forma, pode afetar a íris e a pupila, causando midríase no olho afetado.
Causas neurológicas
A assimetria no tamanho das pupilas também pode ser manifestação de alguma disfunção no sistema simpático ou parassimpático. As causas neurológicas incluem lesões aferentes ou sensitivas e lesões eferentes ou motoras. Nos animais de companhia são mais frequentes:
- Trauma cranioencefálico: um traumatismo craniano pode causar lesões graves ou inflamação nos nervos que ligam o sistema nervoso ao olho.
- Neoplasia intracraniana: um tumor ao nível do sistema nervoso central é capaz de causar interferência na comunicação do cérebro com as vias nervosas que inervam a pupila.
- Toxicidade por organofosforados: são ingredientes presentes em inseticidas e herbicidas. Quando ingeridos, produzem intoxicação que se manifesta com sinais como salivação excessiva, lacrimejamento, micção e, em alguns casos, anisocoria.
- Desnervação simpática ou síndrome de Horner: ocorre quando a via simpática, responsável pela dilatação pupilar, é interrompida. Caracteriza-se por miose da pupila acometida e protrusão ou deslocamento da terceira pálpebra.
- Desnervação parassimpática: alteração na via parassimpática, impede a contração pupilar.
- Desnervação simpática e parassimpática concomitante ou disautonomia: é a presença simultânea de ambas as disfunções. Embora seja mais comum em gatos do que em cães, tende a ocorrer entre caninos de médio a grande porte, que habitam áreas rurais.
Outras causas
Otite média pode causar anisocoria.Os neurônios e nervos que participam da comunicação simpática da pupila com o cérebro passam pelo canal auditivo. Por esse motivo, a inflamação do ouvido médio pode causar interferência nessa via nervosa. Nesse caso, ocorre miose ou contração persistente da pupila.
Por outro lado, a picada de alguns carrapatos pode transmitir a erliquiose canina. Segundo afirma um artigo publicado na revista Veterinary Sciences, a anisocoria tem sido observada entre os sinais oculares apresentados por alguns caninos com esta doença infecciosa.
Diagnóstico da causa da anisocoria em caninos

A localização da lesão é essencial para o diagnóstico e tratamento da condição subjacente à assimetria no tamanho das pupilas. Para isso, o veterinário recorre a um check-up físico, que inclui um exame oftalmológico, para identificar qual das duas pupilas está afetada.Para fazer isso, teste o canino em condições de luz forte e fraca.
Além deste, outros exames podem ser realizados. Estes incluem o teste de Schirmer que mede a produção de lágrimas. Além disso, um teste de fluoresceína permite determinar se há corpos estranhos ou uma úlcera na córnea. Consiste em administrar um corante laranja na superfície ocular e iluminar o olho com uma luz azul cob alto.
Por sua vez, a tonometria é um procedimento realizado para medir a pressão intraocular nos olhos do cão. Essa avaliação nos permite detectar se você tem glaucoma ou uveíte.
O especialista também pode realizar testes farmacológicos - com fisostigmina, pilocarpina diluída ou fenilefrina diluída - para distinguir se a disfunção está nas vias simpática ou parassimpática. Da mesma forma, ele pode indicar exames de sangue e urina, além de tomografia computadorizada ou ressonância magnética.
Tratamento específico
O tratamento da anisocoria dependerá da doença ou distúrbio que a causa e será ajustado ao que o veterinário determinar que seu animal precisa. Algumas patologias, como o glaucoma, podem exigir a administração de medicamentos, como pomadas ou gotas. Da mesma forma, existem outros casos em que é necessário recorrer à cirurgia.
Manejo e considerações finais da anisocoria em cães
Como você pode ver, a anisocoria em cães tem diferentes origens. Desde traumas, tumores, problemas do sistema nervoso até inflamações do ouvido e do próprio olho. Nestes casos, o veterinário se encarregará de identificar o que está causando este problema em seu animal de estimação, a fim de fornecer o tratamento adequado.
Em geral, as doenças que causam anisocoria têm tratamento médico, portanto não é necessário entrar em pânico se observarmos esse sintoma em nosso cão. Claro que é seu dever identificá-lo rapidamente, pois o atendimento oportuno sempre fará a diferença.